Artigo escrito por Ana Paula Horovitz, ginecologista e obstetra formada pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde também realizou sua residência médica. Especializou-se em Ginecologia Endoscópica pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Destaca-se pelo alto índice de partos normais, reforçando seu compromisso com o parto humanizado e o protagonismo da mulher no nascimento.
As infecções do trato urinário (ITUs) estão entre as mais comuns no Brasil e no mundo, afetando milhões de pessoas todos os anos, principalmente mulheres. Apesar de os antibióticos serem a abordagem padrão, o uso frequente pode favorecer a resistência bacteriana, tornando urgente a busca por alternativas naturais e eficazes.
Uma pesquisa inédita da Universidade de São Paulo (USP) aponta uma solução promissora: o desenvolvimento de um leite fermentado probiótico enriquecido com cranberry para auxiliar na prevenção dessas infecções.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) e da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA), analisou a combinação da cepa probiótica Lactobacillus acidophilus La5 com diferentes concentrações de suco de cranberry, fruta conhecida por suas propriedades antimicrobianas.
Os resultados, publicados na revista Food Research International, mostram que a bebida manteve bons níveis de compostos bioativos e apresentou potencial para reduzir a adesão de bactérias causadoras de ITUs ao trato urinário.
O cranberry é rico em proantocianidinas do tipo A (PACs), substâncias capazes de dificultar a fixação da Escherichia coli — principal agente responsável pelas infecções urinárias — na parede do trato urinário.
No estudo, duas formulações foram testadas: uma com 5% de suco de cranberry e outra com 10%. Ambas demonstraram estabilidade físico-química e sensorial durante 28 dias de armazenamento, preservando quantidades relevantes dos compostos ativos.
Entre os 687 voluntários que avaliaram o produto, metade com histórico de ITUs recorrentes, a versão com 5% de cranberry obteve a melhor aceitação de sabor e maior intenção de compra. Segundo os pesquisadores, a combinação entre os PACs e os probióticos pode ter efeito sinérgico, potencializando os benefícios e oferecendo uma alternativa natural com respaldo científico.
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Comparativo com métodos tradicionais
Diversos estudos já investigaram o uso de cranberry para prevenção de infecções urinárias, seja por meio de sucos, cápsulas ou extratos. Embora os resultados sejam, em parte, positivos, eles costumam ser inconsistentes devido à variação na concentração dos compostos ativos.
Nesse sentido, a formulação desenvolvida pela USP representa um avanço: ao associar os PACs aos probióticos, a bebida oferece um efeito combinado que pode ampliar a eficácia preventiva, diferentemente de suplementos isolados.
Vale ressaltar que, apesar do potencial, o leite fermentado com cranberry ainda não substitui tratamentos convencionais. Ele se apresenta como um recurso complementar, capaz de atuar na redução do risco de recorrência de ITUs, especialmente em pessoas com episódios frequentes.
Como prevenir infecções urinárias
Além de inovações como a da USP, alguns hábitos simples podem reduzir o risco de infecções urinárias:
- Manter boa hidratação, consumindo água regularmente;
- Esvaziar a bexiga após relações sexuais, prevenindo a proliferação bacteriana;
- Incluir suplementos com D-mannose, que também dificultam a adesão da E. coli;
- Considerar vitamina C e cranberry em sucos ou cápsulas, sempre com orientação médica;
- Evitar automedicação e buscar avaliação profissional diante de sintomas persistentes, como dor, febre ou presença de sangue na urina.
Avanço para a saúde urinária
A pesquisa da USP abre caminho para o desenvolvimento de alimentos funcionais voltados à saúde do trato urinário, unindo ciência, inovação e qualidade de vida.
Embora mais estudos clínicos sejam necessários para comprovar os efeitos em larga escala, o leite fermentado com cranberry surge como uma alternativa promissora para a prevenção de ITUs, com potencial de impacto real na saúde pública.
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)
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