Consideradas um problema de saúde pública, as hepatites virais atingem milhares de pessoas no Brasil. As infecções do fígado são traiçoeiras e podem se instalar sem deixar qualquer vestígio.
Por isso, estima-se que o número real de casos seja ainda maior. Com identificação tardia, muitos pacientes chegam aos serviços de saúde sofrendo de complicações, como cirrose e câncer.
Todos os anos, a campanha Julho Amarelo promove a conscientização sobre prevenção, diagnóstico e tratamento oportuno dessas doenças.
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Conhecer o cenário epidemiológico de um agravo é parte essencial para a definição de políticas públicas, bem como ações de enfrentamento.
Em um contexto de subnotificação, novos estudos buscam apoiar a identificação da prevalência dessas doenças em dois grupos vulnerabilizados: a população amazônica e pessoas LGBTQIA+.
A iniciativa conduzida pelo Einstein Hospital Israelita, em parceria com o Ministério da Saúde, também tem como objetivo auxiliar no diagnóstico dos agravos e tratamento dos pacientes.
As pesquisas, realizadas via Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), envolvem as regiões Norte, Sul e Sudeste.
“O conhecimento dessas doenças nessa população é muito importante, considerando a iniciativa da Organização Mundial de Saúde que visa a eliminação das hepatites virais como um problema de saúde pública”, enfatiza o médico João Renato Rebello Pinho, coordenador médico do projeto no Einstein e professor da Universidade de São Paulo (USP).
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Incidência entre a população LGBTQIA+
Em um dos estudos, os pesquisadores buscam construir um panorama epidemiológico das hepatites virais entre grupos específicos dessa comunidade: homens que fazem sexo com homens, pessoas trans e travestis.
Nesse trabalho, são avaliados moradores das regiões Sudeste e Sul que fazem uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV ou que são candidatos a adotar esse recurso, que evita a infecção pelo vírus.
Os dados encontrados ajudarão a compor lacunas no conhecimento, por exemplo, de indicadores dos vírus D e E, que ainda não foram estudados nessa população específica.
“Precisamos entender as características epidemiológicas das hepatites virais nessa população para avaliar a necessidade de implementação de condutas específicas para o controle destas infecções nestas populações”, pontua Pinho.
Monitoramento amazônico
Em outra pesquisa, será caracterizado o perfil das infecções em populações assistidas em centros especializados em Medicina Tropical no Norte do país.
Os achados poderão revelar dados mais precisos, especialmente da hepatite D (ou Delta), mais comum nessa região brasileira. O foco em indivíduos em situação vulnerabilidade é relevante para identificar, por exemplo, fatores de risco associados aos determinantes sociais, que atrasam diagnósticos e tratamentos.
“O projeto está em andamento, com coletas em centros localizados em seis diferentes estados brasileiros – São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Amazonas, Amapá – e teremos os resultados finalizados até o final de 2026”, afirma Pinho.
Os pesquisadores pretendem avaliar também possíveis impactos da adesão a testes moleculares rápidos para a detecção das doenças.
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