Um novo estudo encabeçado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), publicado em abril no periódico Neurology, lançou nova luz sobre as relações entre o consumo de álcool e lesões cerebrais tipicamente associadas à demência.
Por meio de análises de neuroimagem realizadas em tecidos cerebrais após a morte dos pacientes, o estudo trouxe evidências ainda mais sólidas da correlação entre o uso da bebida e quadros de piora cognitiva, ainda que não tenha comprovado uma relação de causa e efeito, algo que exige análises mais aprofundadas.
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O que o estudo descobriu
Os pesquisadores puderam observar que o consumo de álcool, em diferentes níveis, tem uma associação com o desenvolvimento de problemas como a arteriolosclerose hialina e os emaranhados neurofibrilares da proteína tau (NFTs). Essas duas características estão ligadas, respectivamente, à demência vascular e à doença de Alzheimer.
O risco era ainda maior naqueles que faziam uso intenso da bebida (caracterizado por oito ou mais doses-padrão semanais). No caso dos NFTs, havia uma chance até 41% maior de apresentar a alteração.
No entanto, a correlação entre álcool e lesões cerebrais foi demonstrada até mesmo em casos de consumo “moderado”. O problema também estava presente em situações de consumo “passado”, nas quais a pessoa já havia abandonado o alcoolismo antes de morrer.
Mesmo sem conseguir comprovar a causalidade, o estudo reforçou um crescente corpo de evidências sobre a associação entre o uso de álcool e as demências.
E com um diferencial importante em relação ao conhecimento já consolidado na área: trata-se de um raro estudo desse tipo feito com cérebros de brasileiros, oferecendo um cenário mais próximo da nossa realidade. Em geral, análises do tipo são realizadas em países de alta renda, o que pode influenciar nos recortes de populações que sofrem com demência, distanciando do contexto do Brasil.
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Não existe dose segura de álcool
Seja para o cérebro, para o fígado ou para a saúde em geral, o consumo de bebidas alcoólicas está associado a uma maior propensão a desenvolver vários tipos de doenças, inclusive cânceres.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que não existem doses consideradas seguras de álcool para o consumo humano. Mesmo com moderação, o aumento de riscos à saúde no longo prazo está presente.
Os perigos do álcool valem para todos os tipos de bebidas, seja naquelas com um volume etílico menor, como a cerveja, ou nas consagradas popularmente como “mais saudáveis”, como o vinho — que, apesar de até possuir um potencial antioxidante, vê esses benefícios serem “anulados” pelos problemas associados ao álcool.
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