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Como as escolas podem combater a epidemia de violência contra as mulheres?



Quando falamos em prevenção à violência, é comum que surja o questionamento: por que focar nas meninas e mulheres, se meninos e homens também são vítimas? Essa pergunta, embora legítima, ignora um dado alarmante: no Brasil, uma menina ou mulher é estuprada a cada seis minutos.

Se isso não for suficiente para acender o alerta vermelho, basta olhar para o ambiente digital, onde 77% das jovens brasileiras já sofreram algum tipo de assédio online, segundo a Plan International.

A adolescência, etapa tão delicada da vida, tem se tornado o ponto de partida do assédio digital. Entre 14 e 16 anos, é quando esse primeiro contato com a violência virtual costuma acontecer. Plataformas como o TikTok, por exemplo, estão repletas de conteúdos misóginos e violentos.

Uma pesquisa do Instituto Think Twice Brasil revelou que, em apenas um mês, 18% dos vídeos sugeridos incitavam violência – e 15% especificamente contra meninas e mulheres.

Focar apenas na resposta a essas violências é “enxugar gelo”. Precisamos ir além. Precisamos atacar as raízes: a desigualdade de gênero e a crença profundamente enraizada na inferioridade das meninas e mulheres.

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A violência contra mulheres e meninas é, antes de tudo, uma grave violação dos direitos humanos. Mas, além disso, ela se tornou uma das mais sérias questões de saúde pública do nosso tempo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a violência contra meninas e mulheres está diretamente associada ao desenvolvimento de transtornos como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, abuso de substâncias, distúrbios alimentares, dores crônicas e ideias suicidas. Entre adolescentes, os impactos se multiplicam, pois afetam o desempenho escolar, o convívio social e a autoestima de forma profunda e duradoura.

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Dados do Registro de Violência Escolar, uma ferramenta da Secretaria de Estado de Educação, são contundentes: meninas representam 91% das vítimas de violência sexual, 94% dos casos de assédio, 100% dos estupros registrados. Elas também lideram os números de bullying, especialmente o psicológico e o social. E o mais doloroso: 100% das tentativas de suicídio registradas envolvem meninas.

É nesse cenário que nasce o Programa Nós+Seguras, uma política do Estado do Rio de Janeiro, construída de forma intersetorial pelas Secretarias da Mulher, da Educação e da Saúde, em parceria com a ONG Serenas. Seu foco é claro: prevenir a violência contra meninas e mulheres nas escolas públicas estaduais e também fora delas.

Para isso, investimos em formação continuada para profissionais da educação e da saúde, rodas de conversa com estudantes, produção de materiais pedagógicos acessíveis e fortalecimento das redes locais de proteção, incuindo as unidades da Atenção Primária à Saúde.

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Mas não basta falar com as meninas. Precisamos também formar os meninos. Mostrar a eles que existem outras formas de ser e estar no mundo, e que respeito, escuta e consentimento são aprendizados que começam na infância. Trabalhar com os meninos é essencial para quebrarmos o ciclo da violência e construirmos uma cultura baseada no respeito e na equidade.

O diferencial do Nós+Seguras está exatamente aí: ele não é uma resposta emergencial, é uma transformação cultural. O programa finca no chão da escola os pilares de uma política de cuidado, de formação cidadã e de enfrentamento às violências que atravessam a vida das nossas meninas.

Dessa forma, enfrentar a violência contra meninas é, sim, uma medida de saúde coletiva. É entender que o sofrimento psíquico e físico dessas adolescentes não é individual: ele é social, estrutural e responsabilidade de todos nós.

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Garantir que meninas possam estudar, se desenvolver com segurança e construir um futuro digno é mais do que política pública: é um compromisso com a justiça social e a saúde. Com o Nós+Seguras, o Rio de Janeiro dá um passo corajoso e necessário. Esperamos que ele inspire outros estados a fazerem o mesmo. Porque garantir a saúde e a segurança das nossas meninas é investir no futuro do país.

* Cláudia Mello, médica e secretária de Estado de Saúde do RJ; Heloisa Aguiar, advogada e secretária de Estado da Mulher do RJ; e Roberta Barreto, professora e secretária de Estado de Educação do RJ

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