No dia 1º de setembro, celebramos o Dia do Endocrinologista, uma data que convida à reflexão sobre a importância de uma das especialidades médicas mais fascinantes, mas também mais deturpadas no cenário atual da saúde.
A endocrinologia, ciência que se dedica ao estudo dos hormônios e de suas repercussões no organismo, está cada vez mais em evidência. Contudo, infelizmente, também tem sido alvo de banalização, fake news e apropriações indevidas que colocam em risco a saúde da população.
Minha escolha pela endocrinologia não foi por acaso. Ainda na faculdade, percebi a grandiosidade da especialidade: um campo que transita entre o comum e o raro, entre doenças altamente prevalentes e condições de extrema raridade, mas todas com impacto profundo na vida dos pacientes.
Desde então, segui meu caminho com residência médica, doutorado e pós-doutorado, sempre envolvido com essa área que considero uma das mais lindas da medicina. A cada dia me convenço mais de que compreender os hormônios é compreender a essência da vida.
Eu queria tanto fazer endocrinologia que, quando residente, não entendia a importância de passar primeiro na residência de clínica médica para depois fazer endocrinologia propriamente. Hoje entendo e agradeço por ter uma sólida base de clínica geral.
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Endocrinologista atua contra diabetes, obesidade e distúrbios da tireoide
A endocrinologia lida com doenças altamente prevalentes e potencialmente fatais, como diabetes, obesidade, distúrbios da tireoide e do colesterol e triglicérides. Elas são responsáveis, dentre outras coisas, por elevar o risco cardiovascular e figuram entre as principais causas de morte no Brasil.
Além disso, a especialidade envolve o manejo de doenças da adrenal e da hipófise, algumas raras, mas nem por isso menos importantes. O cuidado com esses pacientes exige formação sólida, residência médica estruturada, título de especialista e atualização constante.
Segundo a Demografia Médica no Brasil, divulgada recentemente, a endocrinologia é uma das áreas que mais sofre com a proliferação de cursos de pós-graduação. Dados oficiais apontam para 147 cursos de pós-graduação latu sensu.
É fundamental destacar: não existe endocrinologia sem endocrinologista. O título de especialista não é mero detalhe burocrático, mas a garantia de que o profissional passou por anos de estudo e treinamento para cuidar de pessoas com doenças que exigem precisão diagnóstica e terapêutica.
O perigo das promessas milagrosas e falsas especialidades
Vivemos um tempo em que a endocrinologia se tornou “moda”. O interesse da população pela busca de bem-estar, performance e emagrecimento criou um terreno fértil para promessas milagrosas, tratamentos sem respaldo científico e a proliferação de falsas especialidades.
Termos inventados, profissionais sem residência médica e títulos falsos passaram a ocupar espaço, sobretudo nas redes sociais.
Entre os temas mais distorcidos estão as chamadas terapias hormonais “anti-aging”, dietas milagrosas para emagrecimento rápido, diagnósticos fantasiosos como “falência adrenal” e promessas de modulação hormonal que mais confundem do que esclarecem.
Nesse cenário, o paciente — muitas vezes em busca de soluções rápidas — acaba sendo vítima de más práticas que nada têm a ver com a endocrinologia de verdade.
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Por que a desinformação é a maior inimiga da endocrinologia?
A desinformação é um dos maiores inimigos atuais da especialidade. Em paralelo ao avanço da ciência médica, que permite diagnósticos cada vez mais precoces e tratamentos eficazes, cresce a onda de fake news que ameaçam a segurança da população.
E aqui está um ponto central: a endocrinologia não pode ser resumida a redução do peso corporal e estética. Embora o manejo do peso corporal seja parte relevante da prática clínica, a especialidade vai muito além disso.
É a endocrinologia que atua na linha de frente contra o diabetes, que acompanha pacientes com doenças raras e graves da hipófise e da adrenal, que conduz o tratamento de alterações tireoidianas que afetam milhões de brasileiros. É ciência de ponta, não palco para promessas vazias.
A importância de valorizar a vida
Neste Dia do Endocrinologista, o convite é para a sociedade refletir sobre a importância de procurar profissionais verdadeiramente qualificados. Mais do que nunca, é preciso resgatar a essência da endocrinologia: uma especialidade que exige dedicação, estudo e responsabilidade, e que tem como missão preservar a saúde e a vida dos pacientes.
No dia 1º de setembro, celebramos não apenas os endocrinologistas, mas também o compromisso com uma medicina ética, responsável e transformadora. Que possamos seguir valorizando a endocrinologia de verdade: aquela que se baseia em evidências, que enfrenta doenças graves, comuns ou raras, e que se dedica a oferecer o melhor cuidado para cada paciente.
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