Nos últimos anos, observamos uma alteração epidemiológica preocupante: o aumento da incidência do câncer colorretal em indivíduos com menos de 50 anos. Essa tendência configura uma mudança global no perfil dessa neoplasia.
Um estudo publicado na revista The Lancet evidenciou o crescimento das taxas de câncer intestinal em jovens de 27 países, confirmando que esse fenômeno não se restringe aos países desenvolvidos.
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Estilo de vida moderno no centro do problema
As causas associadas a esse cenário envolvem principalmente mudanças no estilo de vida. A chamada “dieta ocidental”, caracterizada pelo elevado consumo de carnes processadas e alimentos ultraprocessados, ingestão excessiva de bebidas açucaradas e baixa ingestão de fibras, aliada ao sedentarismo e à obesidade, constitui o principal conjunto de fatores de risco.
Além disso, alterações no microbioma intestinal e o acúmulo de metabólitos de origem alimentar — especialmente derivados do consumo frequente de carne vermelha — têm sido apontados como gatilhos para processos inflamatórios que favorecem a carcinogênese em adultos jovens.
Histórico familiar pesa, mas hábitos aceleram o risco
Embora fatores genéticos e histórico familiar também exerçam papel relevante nesse tipo de câncer, representam uma parcela menor dos casos.
Entretanto, quando há predisposição hereditária somada a hábitos de vida inadequados, o desenvolvimento da doença tende a ocorrer mais rapidamente.
Prevenção e rastreamento são chaves para reverter o cenário
Felizmente, dispomos de estratégias eficazes para prevenção. A adoção de uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes, grãos integrais e fibras, a prática regular de atividade física e o controle do peso corporal são medidas fundamentais para a redução do risco de câncer colorretal
Diante da mudança no perfil da doença, entidades médicas internacionais já revisaram suas diretrizes, recomendando o início do rastreamento por colonoscopia a partir dos 45 anos, ou até mesmo antes — dez anos antes do diagnóstico em parente de primeiro grau.
A colonoscopia é uma ferramenta crucial porque permite a detecção precoce de pólipos, lesões precursoras da neoplasia, com possibilidade de remoção imediata, prevenindo até 80% dos casos.
O câncer colorretal deixou de ser uma doença exclusiva da população idosa. É fundamental ampliar a conscientização, especialmente entre os jovens adultos, e promover o acesso às medidas de prevenção e rastreamento. Com informação, mudança de hábitos e exames no tempo certo, temos a chance concreta de transformar esse cenário.
*Antonio Carlos Buzaid é oncologista clínico, diretor médico geral do Centro de Oncologia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo; cofundador do Instituto Vencer o Câncer
(Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)