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Introdução
Ozempic e similares revolucionam a perda de peso, mas seu uso estético, sem indicação médica, gera sérias preocupações. Um estudo da USP alerta para a falta de dados sobre efeitos colaterais e impactos psicológicos a longo prazo. Entenda os riscos.
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- *”Uso estético em zona cinzenta**: Apesar dos resultados expressivos na perda de peso, os agonistas de GLP-1 não têm estudos que avaliem segurança ou efeitos psicológicos em em pessoas sem obesidade ou diabetes.
- “”Mudança social:** Análise considera que a possibilidade de emagrecimento rápido e intenso pode trazer mudanças sociais em relação aos padrões de beleza e busca pelo “corpo ideal”
- **O que o estudo da USP investigou:** Pesquisadores da USP criaram um documento apontando as questões mentais e sociais que deverão ser estudadas no futuro, como alterações no comportamento alimentar, dependência emocional e piora da relação com o corpo.
- **Indicação restrita:** A Anvisa aprovou essas substâncias apenas para obesidade ou diabetes tipo 2, onde riscos e benefícios são conhecidos.
- **Efeitos adversos conhecidos:** Náuseas, vômitos, dores estomacais e outros desconfortos são comuns, mesmo em usos aprovados.
- **Peso de volta:** Muitos usuários recuperam o peso após interromper o tratamento, reforçando que a medicação não é “pílula mágica” sem mudança de estilo de vida.
- *”Uso estético em zona cinzenta**: Apesar dos resultados expressivos na perda de peso, os agonistas de GLP-1 não têm estudos que avaliem segurança ou efeitos psicológicos em em pessoas sem obesidade ou diabetes.
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Resumo gerado por ferramenta de IA treinada pela redação da Editora Abril.
Os medicamentos análogos do GLP-1 e de outros hormônios intestinais – caso do Ozempic, Mounjaro e Wegovy –, revolucionaram a medicina ao promover perdas de peso jamais vistas por fármacos. Por outro lado, diante de resultados tão impressionantes, muita gente começou a ver esses remédios como um “santo graal” da boa forma.
A questão é que, na bula, os medicamentos são indicados somente para pessoas com quadros de obesidade e diabetes tipo 2. Mesmo assim, eles têm sido amplamente usados com fins estéticos.
Na esteira desse movimento, estão muitas lacunas. Nada se sabe sobre os quais podem ser efeitos colaterais no corpo desses indivíduos, por exemplo. Isso porque simplesmente não existem estudos que tenham analisado isso.
Sem essa base científica, cientistas há ainda o risco de que fármacos pensados para tratar doenças se transformem em armas poderosas na consolidação de padrões estéticos rígidos.
Um novo documento internacional, escrito sob a liderança de pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)e da Faculdade de Saúde Pública (FSP-USP), buscou trazer uma perspectiva sobre isso. A análise foi publicada recentemente na revista científica Obesity.
Entre as muitas incertezas que ainda rondam o assunto, os pesquisadores levantaram questões sobre os impactos sociais e psicológicos para esse público. Segundo eles, a revolução das chamadas “canetas emagrecedoras” pode causar efeitos como:
- Alterações no comportamento alimentar;
- Dependência emocional do medicamento;
- Medo de recuperar peso;
- Mudanças significativas na relação com o corpo e com a alimentação.
+Leia também: Ozempic: os riscos de usar apenas para perder uns quilinhos
O que o documento aponta
Segundo a análise, cada vez mais pessoas sem obesidade ou alterações metabólicas recorrem a esses medicamentos para emagrecer. Para os autores, isso reforça o que chamam de “economia moral da magreza”, um contexto em que a aparência, e não a saúde, se torna o objetivo do uso, por supostamente elevar o status social.
“Esses medicamentos representam uma mudança na sociedade como um todo. Por isso, a gente precisa entender o que está na raiz da necessidade de tomar tais remédios entre pessoas que não precisam de verdade”, comenta o professor Bruno Gualano, presidente do Centro de Medicina do Estilo de Vida da FMUSP, e um dos autores do estudo.
Os autores, então, chamam atenção para preocupações com o que pode acontecer com a saúde mental desses usuários e os rumos sociais desse movimento. A seguir, confira as principais hipóteses levantadas:
- Menos fome e mais conflito com a comida?
Um dos maiores pontos de interrogação diz respeito à relação com a comida. Ao suprimir o apetite, os agonistas do GLP-1 podem alterar a experiência subjetiva da fome. Este é um contexto em que a falta de vontade de comer pode acabar sendo vista como libertação, alívio ou alienação.
Os autores questionam se isso pode gerar aversão alimentar, culpa ao comer ou desejo de “não precisar comer”. Também permanece em aberto como esses medicamentos afetam o controle em relação a certos alimentos e a maneira de lidar com as emoções.
- Imagem corporal e autoestima
O texto problematiza a suposição de que emagrecer necessariamente leva a maior aceitação do próprio corpo. Pelo contrário, os autores perguntam se a perda de peso pode acabar elevando continuamente a linha do que é considerado “magro o suficiente”.
Por isso, o impacto psicológico é um ponto sensível ainda sem respostas. O artigo questiona se o uso off-label (fora da indicação da bula) pode coincidir com sintomas de ansiedade, depressão ou transtornos alimentares. Também pergunta se pode intensificar sentimentos de culpa, nervosismo e medo relacionados à alimentação e ao ganho de peso.
A descontinuação do uso aparece como uma das maiores incógnitas. Os autores perguntam se o medo de recuperar peso pode ser maior do que a preocupação com os efeitos adversos, e até que ponto o medicamento se torna central para a autoimagem e o controle emocional.
Não se sabe o que acontece – física e psicologicamente – quando essas pessoas interrompem o uso, nem se elas se sentem presas a um ciclo contínuo de medicação para manter a magreza.
+Leia também: Quais são os efeitos colaterais comprovados de Ozempic e Mounjaro?
A indicação aprovada
O GLP-1 é um hormônio produzido pelo intestino delgado. Por lá, ele estimula diversas reações, como a liberação de insulina, a sensação de saciedade e a diminuição da velocidade da digestão. Ao imitar a sua ação, os medicamentos que ganharam o apelido de “canetas emagrecedoras” ajudam a reduzir os níveis de açúcar no sangue e promovem a perda de peso.
É uma reação que afeta o corpo inteiro, incluindo músculos, órgãos, e muito mais. Por isso, para adquiri-los, é preciso ter prescrição médica, até porque o seu consumo requer indicação clínica.
Vide bula, as substâncias só foram autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso entre pessoas com obesidade ou diabetes.
Essa autorização não veio do nada. Cada um dos medicamentos encarou uma bateria de estudos clínicos que mediram por anos os riscos e benefícios em pessoas que tinham essas condições.
Em outras palavras, é somente nesse grupo que os riscos e benefícios são conhecidos. Já fora dele, as respostas ainda são incertas, especialmente quando se fala em efeitos mentais.
“Há uma lacuna importante de conhecimento. Sabemos que esses medicamentos são eficazes para pessoas com obesidade, mas ainda faltam estudos que avaliem segurança, impacto psicológico e efeitos de longo prazo em indivíduos sem indicação clínica”, afirma Gualano.
Por essa razão, ele avalia: “isso torna o uso estético especialmente preocupante”.
Efeitos adversos
Além das incertezas, há os efeitos colaterais já conhecidos. Náuseas, vômitos, dores estomacais intensas, diarreia, azia, queimação, dor de cabeça, sonolência e constipação estão entre as queixas mais comuns.
O usuário ainda pode sentir fraqueza e indisposição. Em pacientes com indicação adequada, o acompanhamento médico ajuda a minimizar esses sintomas e o custo-benefício, considerando as vantagens para a saúde, é viável.
Outro ponto é que tomar essa medicação não garante um corpo magro para sempre. Uma pesquisa publicada na revista científica Epic Research sugere que cerca de 20%, ou uma em cada cinco pessoas, recupera todo o peso (ou até mais) após parar com uso do remédio.
+Leia Também: Maioria dos usuários das canetas antiobesidade reganha peso após parar tratamento
O índice não é ruim, porém reforça que não estamos falando de uma pílula mágica. Sem ajuste no estilo de vida, fica difícil manter o peso adequado no longo prazo.
No fim das contas, os medicamentos da categoria representam um avanço real e valioso da medicina quando usados para aquilo que foram estudados e aprovados. Como aponta Gualano, fora desse contexto, porém, eles passam a levantar mais perguntas do que respostas.
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